quarta-feira, 5 de junho de 2013

Minhas primeiras experiências com a Leitura e a Escrita

Lembro-me do meu primeiro dia de aula no sítio onde passei minha infância, usava um meigo penteado de menina que minha mãe com muito esmero e apuro sempre aprontava em dias especiais de passeio. Vestia minha melhor calça jeans e ainda consigo me lembrar dos detalhes cor-de-rosa do tênis da Xuxa que eu calçava. No rosto dela havia um sorriso de orgulho, de quem estava concretizando em mim um sonho que jamais pudera realizar. Esse meu primeiro contato com a escola foi impossível de não lembrar dentro deste contexto.

Minha primeira palavra - não sei exatamente – talvez tenha sido meu próprio nome, talvez... Tenho lembranças que se confundem no tempo juntamente com a dissílaba e bela palavra “amor”. Devo as ter aprendido na mesma época, é provável.

Já na segunda ou terceira série mais ou menos, minha jovem professora primária também teve lugar garantido em minha memória. Recordo-me dela nos falando sobre a ‘frase’ e nos pedindo para formá-las.

“Frases?! Como assim?” – pensava.

_ Professora, o que é uma frase? – perguntei-lhe curiosa.

_ Uma frase pode ser qualquer enunciado – (na verdade acho que ela usou a palavra “coisa”). Se eu disser, por exemplo, “Vá ao armário pra mim” é uma frase – explicou-me com aquela admirável simplicidade de professora primária no recinto de sua arte. Eu nunca mais me esqueci desse momento, não sei por que...

Entendi o que significava, e assim comecei com grande empenho a formá-las: “A casa é bonita”, “O céu é azul”...

A essa altura já sabia ler e escrever, com letras quase que geométricas. “Uma graça!” diziam-me os adultos.

Certo dia...

- Josi – disse-me uma fiel coleguinha do sítio – Você sabe ler?

- Sei – respondi-lhe com tom altivo na voz.

- Leia pra mim aquela frase no muro – pediu-me.

Li - com todos os engasgos que tinha direito - mas li. No que ela então me respondeu:

- Poxa! Não entendi nada!

Isso também me marcou de alguma forma. Como ela poderia me dizer uma coisa daquelas? Se não entendeu nada a culpa era só dela que não sabia entender.

Mais tarde, com mais ou menos 10 anos, comecei a ler uns livros que minha mãe havia comprado de um viajante que fora ao sítio vender enciclopédias.

Comecei a lê-los, e então conheci Sigmund Freud, autor da Psicanálise. Havia três interessantíssimos volumes sobre psicologia no meio de tantos livros enormes. Adorava... Lia-os para minha querida mãe. Desta vez eu já conseguia ler tudo certinho, bem corrido, porém, mesmo assim, ela nada entendia sobre o que eu dizia, as palavras pareciam difíceis demais. Entretanto, eu já achava o máximo todas aquelas teorias sobre o comportamento humano, as descobertas sobre os porquês dos traumas, as explicações sobre os significados dos sonhos... Um dos títulos que eu mais gostava era ‘Complexo de inferioridade’. “ERA ISSO!!!” – pensei.

- Mãe, presta atenção nisso! É isso que a senhora tem! Olha só! É por isso que reclama de tudo.

- Que? Lê mais devagar – ela me pedia, tentando entender aquele meu jeito esquisito de falar.

Eu lia tudo de novo, só que mais pausadamente, no entanto ela se cansava rápido: “Para com isso, vai! Não tô entendeno nada!”

Apesar disso, nunca mais deixei de me encantar com a Psicologia.

Posteriormente, encantei-me com as histórias de Ziraldo, Monteiro Lobato, depois com as de Machado de Assis, Eça de Queirós, José Saramago...

Já na faculdade, deleitei-me com as poesias de Florbela Espanca... E a partir daí, nunca mais parei de imaginar.

Cheguei a escrever na revista científica da faculdade sobre o livro “Água Viva”, de Clarice Lispector. Foi uma experiência incrível.

Acho que é por essas e outras que até hoje não tenho dúvidas de que a imaginação caracteriza-se em um alimento para o cérebro dos mais deliciosos.

Josiane de Fátima Mosca Manzini

2 comentários:

  1. Olá Juliana! Eu também tive dificuldades em aprender a ler, quando entrei com seis anos na escola, mas depois que fiz de novo a primeira série com sete anos consegui acompanhar e depois que aprendi a ler, nunca mais parei, adoro!Um abraço!

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  2. Parabéns grupo três! o blog ficou muito bonito!

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